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1 de abril de 2009

HOMENS E LOBOS

Existem momentos em que fico horas a olhar para o meu gato. Com inveja, sempre com inveja. Só Deus sabe o que existe na cabeça de um felino. Mas acompanho rotinas dele e sei,filosoficamente falando, que ele é feliz.Nós, humanos, seres temporais por excelência, vivemos aprisionados à ideia do nosso próprio fim. E, como se não bastasse essa terrível condenação, somos também incapazes de habitar cada momento inteiramente. O presente, em nós, está sempre carregado de passado e de futuro: do que fomos, das memórias que temos, do caminho e das escolhas que fizemos, e daquilo que gostaríamos de ser, ou ter, ou fazer. O presente, para nós, não é um lugar para estar. É uma breve passagem a caminho de outra breve passagem.Sempre e sempre e sempre até a despedida final.Por isso, aconselho: se quiserem entender a natureza da felicidade, comprem um gato. E acompanhem a forma como ele cumpre as suas rotinas com entrega contida e total.Ele não espera nada, ele não deseja nada. A felicidade, para ele, não existe por adição: de objetos, experiências,lugares. Mas por repetição: ele repete as experiências que são significativas. E, em cada repetição, existe a certeza da mesma felicidade.A felicidade seria uma construção individual e progressiva rumo a um fim determinado.Paraoxalmente, essa ideia libertadora apenas trouxe o seu reverso: se a felicidade era responsabilidade nossa, a infelicidade também. E, adicionalmente, se a felicidade era convertida em insatisfação interminável: jamais seremos o que queremos ser; jamais teremos o que queremos ter. A felicidade moderna converteu-se numa vigília permanente: a vigília de Homens insatisfeitos; de Homens esmagados pelos seus próprios ideais de felicidade e perfeição.Viver com Brenin( lobo(animal) que Mark Rowlands comprou ainda filhote e foi seu animal de estimação durante sua vida - Mark Rowlands: autor do livro: " The philosopher and the Wolf: Lessons from the Wild on Love, Death and Happiness"( o filósofo e o lobo: lições do selvagem sobre amor, morte e felicidade) Editora Granta...continuando..viver com Brenin ensinou a Rowlands essa crucial diferença entre Homens e animais: nós vivemos mergulhados no tempo e nas nossas próprias teleologias pessoais. E a forma que são posteriores ao momento presente impede-nos de viver qualquer momento de forma real e total. A infelicidade humana não nasce da nossa ignorância ou da nossa imperfeição. Muito menos da ignorância ou da imperfeição das nossas sociedades. A infelicidade humana é um produto da nossa específica temporalidade. Resta uma questão final: serão os Homens superiores aos animais? A resposta de Rowlands talvez seja a mais honesta: depende do que entendemos por “ superioridade”. Sim, um lobo jamais pintaria o teto da Capela Sistina. Mas será a Capela Sistina uma necessidade para um lobo? Ou, pelo contrário, será antes uma necessidade para nós? Uma forma de completarmos a parte que nos falta das várias partes que nos faltam?

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